Gladiadores


Os gladiadores não eram somente escravos. Homens livres também combatiam na arena, além de alguns tipos de criminosos, que formavam um tipo especial de lutadores.Os escravos que lutavam eram de preferência os prisioneiros de guerra e os alugados por seus senhores. Como escravos, esses homens não tinham escolha, mas através de suas vitórias nos combates, poderiam conquistar a sonhada liberdade representada por uma espada de madeira, a rudis, sendo a partir chamados de Rudiarii.

O nome "Gladiador" provém da espada curta usada por este lutador, o gladius (gládio). Eles se enfrentavam para entreter o público, e o duelo só terminava quando um deles morria, ficava desarmado ou ferido sem poder combater. Nesse momento do combate é que era determinado por quem presidia aos jogos, se o derrotado morria ou não, frequentemente influenciado pela reação dos espectadores do duelo. Alguns dizem que bastava levantar o polegar para salvar o lutador, outros dizem que era a mão fechada que deveria ser erguida.

Entretanto alguns estudos relatam que nem sempre o objectivo era a morte de um dos gladiadores, haja vista, que isso geraria ónus para o estado romano. Argumenta-se que o principal objetivo era o entretenimento da plateia. Faziam parte da política do "pão e circo" (panis et circencis). Pouco comum era que um romano de alta posição social, mas arruinado, se relacionasse como gladiador a fim de garantir a própria defesa, ainda que de maneira arriscada. Ser proprietário de gladiadores e alugá-los era uma atividade comercial perfeitamente legal.



Os homens livres também competiram e na República romana, metade dos gladiadores era formada por eles. Os homens livres eram muito procurados por seu entusiasmo durante os combates e o gladiador mais famoso foi um homem livre, Públio Ostório que fez 51 combates em Pompéia. Mas o que levava um homem livre a ingressar na vida de gladiador para ser marcado a ferro, viver preso em uma cela, ser chicoteado e morrer pela lâmina de espada?

Apesar de toda a dureza da vida dos gladiadores, ela tinha seus pontos positivos. Com suas vitórias, os gladiadores poderiam conseguir riquezas, que um trabalhador comum não conseguiria durante toda sua vida. A fama e a admiração feminina eram outros componentes que contavam a favor desse estilo vida. No que diz respeito à admiração feminina, dizia-se que Cômodo (180-192), filho de Marco Aurélio (161-180) e Faustina, era na verdade o fruto de uma ardente paixão dela com um gladiador.

Além dos fatores citados, outros incentivavam o ingresso nesse tipo de vida. O homem que se tornava gladiador participava de grupo coeso (família gladiatória), com moral rígida e fidelidade ao seu mestre. Nessa vida, virava um modelo de disciplina militar e com comportamento rigoroso, podendo alcançar a fama semelhante de um soldado romano em um campo de batalha.

Outros homens livres buscaram os jogos gladiatórios com outros objetivos. Relatos contam que um homem se ofereceu para lutar por 10 mil dracmas para auxiliar um amigo endividado. Um jovem lutou para conseguir dinheiro para o funeral do pai. E outros se tornavam gladiadores após a falência. Ex-gladiadores também voltavam à arena quando a oferta era grande.

História

As primeiras lutas conhecidas aconteceram em Roma em 286 a.C., no começo da Primeira Guerra Púnica. Porém o esporte teve início com os Etruscos. Durante cerca de sete séculos, as lutas dos gladiadores, entre si (ordinarii) ou contra animais ferozes, o que era menos valorizado e prestigioso para os lutadores, foram os espectáculos preferidos dos romanos. O Coliseu, era o principal palco dessas lutas, em Roma, e suas ruínas ainda se constituem numa atração turística da cidade.

No ano de 73 a.C., aconteceu a terceira guerra contra escravos, que teve início com um gladiador, de nome Espártaco. Este liderou um grupo rebelde de gladiadores e escravos, que assustou a então República Romana. A revolta terminou dois anos depois graças a Marcus Crassos. Depois disso os lutadores eram vistos com medo nas épocas de crise.

Para as lutas eram reunidos prisioneiros de guerra, escravos (devido ao tratamento mais humano e à possibilidade de alcançar a fama e até mesmo a liberdade, ser um gladiador era melhor do que ser um escravo comum) e ainda autores de crimes graves - mas na época dos imperadores Cláudio I, Calígula e Nero a condenação à arena foi estendida às menores culpas, o que aumentou o interesse pelas lutas. Dois imperadores participaram de lutas, obviamente vencendo, foram eles Calígula e Cómodo.

Com o advento do Cristianismo as lutas foram banidas no reinado de Constantino I, no ano 325 Mas embora tenham decaído, os espetáculos de gladiadores sobreviveram por mais de um século após a proibição.

Vida como Gladiador

Treinamento: Os gladiadores tinham treinamento em escolas especiais conhecidas como ludus. Em Roma havia quatro escolas, sendo a maior Ludus Magnos que era conectada com o coliseu por um túnel subterrâneo. No intervalo das lutas eles tinham um tratamento especial que envolvia grandes cuidados médicos e treinamento cuidadoso. No geral, eles não lutavam mais que três vezes ao ano. Viajavam em grupos conhecidos como famílias quando iam lutar em outras cidades. O treinador, conhecido como lanista (provavelmente derivado da palavra carniceiro), ia junto.

Alimentação: Os gladiadores eram, em grande parte, vegetarianos. Se alimentavam basicamente de feijões e cevada. O motivo é o fato de que a carne era um alimento caro, e eles eram escravos.

Curiosidades: Eram comuns nas lutas as participações de anões, sendo que eles lutavam tanto entre si como também em times contra gladiadores normais. Havia também gladiadoras mulheres, que lutavam com um seio exposto, pois usavam as mesmas vestimentas dos gladiadores homens. O imperador Domiciano gostava de ver lutas entre anões e mulheres.

Categorias

Os lutadores pertenciam a grupos e as lutas eram organizadas de forma que nenhum grupo ficasse em desvantagem.

Trácios: eram os mais fracos, como proteção usavam um capacete que cobria toda cabeça e um escudo quadrado, além de caneleiras. Atacavam com espadas curvas, as sicas.
Murmillos: eram os oponentes dos trácios e retiários. Usavam um grande escudo numa mão e na outra uma espada curta. O capacete se assemelhava a um peixe.
Retiários: empunhavam um tridente e eram os mais desprotegidos. Carregavam também uma rede e uma faca curta. Eram os únicos aos quais era permitido recuar em combate.
Secutores: Se assemelhavam muito com os murmillos entretanto seu capacete era arredondado para não prender na rede dos Retiários que eram seus oponentes.
Dimachaeri: Não se sabe muito sobre ele, mas como usava duas espadas, sabe-se que era um dos mais bem treinados.

Um dia de jogos gladiatórios. 

Treinador com o seu leão amestrado.
Observe a cabeça de burro próxima à pata do leão.
Piso em uma villa em Nennig (século II ou III). 
Os jogos gladiatórios não começavam no dia das lutas. Na verdade começavam alguns dias antes quando
os combates eram anunciados com cartazes afixados nas casas e edifícios públicos. Nos cartazes pregados e nos vendidos na rua, veríamos todas a programação do dia de jogos, com os tipos de combates, horários, os nomes dos lutadores e o patrocinador da competição.

O dia dos jogos começava logo pela manhã. Romanos de todas as classes sociais se dirigiam ao Anfiteatro Flávios para presenciar um espetáculo que duraria até o anoitecer. Nos arredores do anfiteatro, novos programas eram distribuídos. 

Nesse dia o público não precisaria comprar ingressos, já que o imperador era o promotor do evento. As pessoas se dirigiam para seus lugares segundo seu grupo social. A elite ocuparia a fileira mais perto da arena; os grupos médios ocupariam a segunda fileira e plebe e as mulheres ocupariam as duas últimas fileiras. Nesse dia, ainda era esperada a presença do imperador.

Para alívio dos espectadores, o velarium (os toldos de pano) estava sendo estendido para proteger o público do sol que brilhava radiante no céu limpo de nuvens de Roma. Para as pessoas que haviam saído com pressa de casa, e por isso, estavam em jejum, existiam vendedores que ofereciam refrescos, salsichas e bolos, como nos estádios de futebol da atualidade.

O primeiro espetáculo do dia estava reservado aos animais. Primeiramente entraram os treinadores com animais amestrados. Panteras puxando carroças, elefantes que rolavam no chão ao comando de seu treinador e outros animais selvagens que faziam coisas fantásticas ao som da orquestra que os acompanhava, como nos espetáculos circenses do mundo contemporâneo.

Com o fim desse número, iniciava-se o segundo espetáculo da manhã, com as lutas entre os animais. Para a arena vários animais foram trazidos e lutaram entre si, em variadas combinações: leão X pantera, urso X leão, pantera X urso, urso X cachorros selvagens e uma infinidade de  combinações que começavam a excitar a platéia.

Bestiarii
Para finalizar os espetáculos pela manhã, os romanos assistiriam os primeiros gladiadores a pisar na arena neste dia, os bestiarii, especialmente treinados para combates com animais. No entanto, antes disso haveria um intervalo para a preparação da arena. Do seu chão foi erguida uma decoração que a transformou em uma floresta. Leões foram soltos. Os bestiarii em maior número entraram na arena e começaram a caçada que terminou com a morte dos leões e alguns gladiadores feridos.  

Ao meio-dia o sol castigava a arena. Escravos entraram para retirar os corpos dos animais, e por ventura de algum bestiarii que houvesse morrido pela porta libitinensis. Ao mesmo tempo, a decoração para o espetáculo era recolhida, e outros escravos se encarregavam de trazer mais areia para cobrir as manchas de sangue.

Com a arena novamente limpa, era a hora de uma nova etapa do espetáculo: criminosos seriam levados à arena para morrerem. Quando entraram, um grito de alegria percorreu as arquibancadas. Escravos declararam os crimes cometidos por aqueles homens, enquanto alguns eram amarrados em postes de madeira.

Novamente, animais foram soltos na arena, mas dessa vez não seriam as vítimas. Leões e panteras famintos avançaram nos criminosos amarrados e devoraram-nos. Em outro momento, um criminoso foi enviado à arena para separar uma briga de dois animais, e acabou devorado. Por último, duas dezenas de criminosos, incluindo cristãos foram deixados na arena, onde os leões atacaram e destroçaram seus corpos.

O êxtase da platéia estava chegando ao ponto máximo. Um novo intervalo foi feito e novamente, escravos entraram para recolher os corpos e cobrir o chão manchado de sangue com areia. Os músicos da orquestra to cavam animadamente para distrair o público, que aproveitava esse novo intervalo para se alimentar. Nesse momento, o imperador chegou ao anfiteatro e todos perceberam sua chegada que foi saudada com aplausos e gritos da platéia. Após mais algumas músicas, a orquestra iniciou a última parte dos jogos do dia, o tão esperado momento, o combate entre os gladiadores.

Transportados em carruagens abertas, os gladiadores entraram pela porta trumphalis na arena e atrás deles, seus criados carregando seus armamentos. A platéia explodiu em alegria gritando os nomes de seus preferidos. Os gladiadores vestiam uma capa púrpura com detalhes em ouro e deram uma volta em torno da arena para que o público pudesse vê-los. A carruagem parou em frente à tribuna imperial, o pulvinar, onde estava o imperador e os gladiadores saudaram-no erguendo o braço direito.

Um par de gladiadores se equipou para o combate e o restante saiu de cena, esperando para lutarem em um outro momento. O combate seria entre um retiarius e um secutor. Com um toque da orquestra o combate começou. O anfiteatro tremia com fervor. A luta era muito disputada. O ferimento mais leve tirava urros da torcida.

Desenho de um combate entre um
retiarius (Com a rede) e um
secutor (com o escudo).
Espectadores gritavam o nome do retiarius, enquanto outros incentivavam o secutor. O retiarius tentava prender com sua rede a espada de seu oponente, enquanto o secutor esperava um descuido do retiarius para ferir um de seus braços para inutiliza-lo para o combate. Após minutos de combate, num descuido do retiarius, o secutor cravou a espada em sua barriga. A multidão começou a gritar: Degola! Degola! Degola!

O retiarius ferido e caído no chão esperava seu destino: a morte. O vitorioso, ainda ofegante, dirigiu seu olhar para o pulvinar, esperando a decisão imperial. O imperador por sua vez, observou a platéia do anfiteatro esperando seu posicionamento. A platéia não demonstrou clemência e pediu a morte do retiarius. O imperador virou-se para o secutor e sinalizou para a morte do adversário.

Em um último momento de dignidade, o derrotado expôs o pescoço para o vitorioso que em um golpe preciso cravou a espada no pescoço do adversário. A multidão gritou extasiada, enquanto a areia se encharcava com o sangue do morto.

Após a morte do gladiador, criados entraram na arena para recolher o corpo e limpá-la. Após esse pequeno intervalo, novos combates se sucederam, dessa vez com vários gladiadores lutando ao mesmo tempo. E por várias vezes o ritual da morte se repetiu, com os vitoriosos indagando ao imperador, que por sua vez indagava à platéia, se os derrotados deveriam morrer.

As batalhas duraram toda a tarde e ao entardecer, os gladiadores vitoriosos retornaram à arena e receberam a palma como símbolo de suas vitórias, moedas, pratos dourados e outros objetos de valor. Assim terminava um dia de jogos gladiatórios em Roma.

E como morriam os gladiadores?

Reconstituição de uma luta:
armas seguiam regras para dar
chances iguais aos combatentes.
O golpe mortal com o tridente
era na parte de trás do crânio
do lutador caído ao solo. 
Durante 700 anos, as sangrentas lutas de gladiadores foram o mais popular espetáculo do Império Romano. Quase tudo o que se sabe sobre quem eram, como viviam e como morriam esses atletas da Antiguidade vem de referências indiretas, como inscrições, desenhos e relatos da época. Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores austríacos está conseguindo traçar um retrato realista, baseado em evidências materiais, do que foram essas lutas travadas até a morte para o divertimento da multidão

O objeto de estudo é um cemitério no oeste da Turquia onde foram encontrados os esqueletos de 120 gladiadores, quase todos mortos em combate ou executados depois de derrotados na arena. As ossadas, datadas dos séculos III e IV, tinham marcas de ferimentos feitos por espada, tridente e por uma arma pouco comum, chamada quadridente cúbico, uma espécie de garfo grande com quatro dentes dispostos bem perto uns dos outros que se imaginava usada apenas em rituais religiosos.

O mais impressionante eram as formas de execução dos gladiadores derrotados. Aquele que tivesse ferimentos leves esperava de joelhos pelo julgamento da platéia. Caso a decisão fosse pela execução, ele era morto com um golpe de espada na jugular. 

Se estivesse muito debilitado, era mantido de quatro na areia e recebia o golpe nas costas, na altura do ombro. A lâmina penetrava entre os ossos e chegava diretamente ao coração. As ossadas foram achadas na antiga cidade de Éfeso, a mais movimentada da Ásia Menor na época, com 200.000 habitantes. Sua arena, adaptada sobre um teatro grego, podia acomodar 25.000 espectadores, a metade da lotação do Coliseu de Roma. 


Os arqueólogos da Universidade de Viena encontraram junto às tumbas muitos desenhos e inscrições a respeito da vida dos gladiadores sepultados. Iam desde grafites desenhados por crianças até entalhes nas lápides. Essas inscrições permitiram que identificassem um jovem de 21 anos que treinava para ser gladiador desde os 17 e foi morto na quinta vez em que se apresentou na arena. Outra história contada nas inscrições é a de um lutador de 30 anos que foi muito admirado pelos moradores de Éfeso: venceu 21 lutas e foi poupado da morte pela platéia em quatro derrotas. As inscrições mostravam que era possível aos combatentes morrer de velhice. Um deles viveu até os 99 anos depois de ter sido libertado e receber uma pensão do império por várias décadas.

O Golpe de misericórdia no lutador derrotado era aplicado nas
costas e a espada atingia o coração.
Os gladiadores eram, em sua maioria, criminosos condenados, prisioneiros de guerra e escravos. A análise das ossadas pelos pesquisadores austríacos mostrou que eram muito bem tratados enquanto estavam em treinamento. É fácil entender por quê. Os melhores lutadores valiam o equivalente a quinze vezes o salário anual de um legionário. 

Se acumulavam um número suficiente de vitórias, eram libertados e, não raro, transformavam-se em organizadores de luta. As regras do jogo eram rigorosas e sempre buscavam um equilíbrio de forças entre os dois gladiadores. As armas e as roupas de proteção seguiam um padrão fixo, para que um não levasse nenhuma vantagem em relação ao outro. 

O que encantava a platéia era a destreza demonstrada na arena. "Eram apenas dois combatentes. Lutas com um único gladiador perseguido por vários oponentes com armaduras extravagantes não existiam. Isso só se vê nos filmes de Hollywood", disse a VEJA Fabian Kanz, antropólogo da Universidade de Viena, um dos arqueólogos que analisaram as tumbas de Éfeso.

Fontes:
http://www.forumespirita.net/
http://pt.wikipedia.org/
http://hid0141.blogspot.com.br/

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